O intuito desse artigo não é banalizar transtornos psicopatológicos reais, como Cleptomania e Megalomania, mas sim abordar o vício ao DOTA e jogos Online como algo sério, chamar atenção para esse problema, e ao mesmo tempo desenvolvê-lo de maneira interessante.
Começa devagar. À princípio você nem percebe ela chegando, mas aos poucos a necessidade vai se tornando maior, crescente. Te contamina gradualmente com uma vontade resiliente… E assim vai, contagia o seu dia-a-dia e uma vez que tenha tomado seu cérebro, é praticamente impossível de erradicar.
Soa como uma doença muito ruim não é? Talvez seja.
Você já passou o dia contando as horas pra chegar em casa e jogar Dota? Já calculou, enquanto fazia outras coisas, quantas partidas poderia estar jogando naquele momento? Já teve seu humor completamente destruído por horas, e às vezes o dia todo, por causa de uma partida perdida ou mesmo uma sequência de derrotas? Já virou noites e noites jogando, se convencendo de que a próxima partida seria a última, mas não foi, e quando viu, já era quase dia?
Se sua resposta para qualquer uma dessas perguntas foi positiva, então talvez você esteja com um transtorno psicológico caracterizado pela necessidade, muitas vezes incontrolável e agressiva, de se jogar DOTA.
Eu comecei a perceber que perdia muito tempo jogando DOTA quando vi o número de jogos intocados que eu tenho na Steam e o número de horas que eu tinha de DOTA. Olhando para vários dos meus amigos, eu nem joguei tantas horas assim. Minhas 2300 horas de jogo parecem humildes frente às mais de 4 mil horas deles, mas ainda assim são números muito expressivos.
Vamos analisar as coisas mais profundamente. Para tirar uma carteira de carro, você precisa de, pelo menos, 45 horas de aulas teóricas e mais 20 horas de aulas de direção: 65 horas, no mínimo, pra você ser considerado um condutor apto. Um aluno-piloto de aviação precisa de 35 horas de vôo para poder se tornar de fato um Piloto Privado – além de várias horas de aulas teóricas -, enquanto um piloto comercial precisa que essas horas sejam de, no mínimo, 150 h. Esses números parecem ser irrisórios perto da quantia de horas colossal investida em um jogo.
Duas mil e trezentas horas. Em dias, esse número daria algo em torno de 100 dias. “Ah, mas isso foi ao longo de muitos anos”. Sim. De fato. Vamos então estender esses números no tempo. Para se ter uma ideia, um curso de Engenharia Mecânica numa universidade federal, com 10 períodos (5 anos), tem carga horária média de 4575 horas. Contando que vários desses amigos jogam DOTA desde 2011, desde a fase BETA, muitos deles já teriam um curso completo de Engenharia Mecânica nesse ponto. O que dizer de um deles que possui mais de 13 mil horas?
Isso porque eu ainda nem falei das horas não contabilizadas que todo bom viciado que se preze tem, não é? Seja assistindo campeonatos ou streams de pubstompers ou jogadores profissionais, seja lendo artigos sobre mecânicas do jogo ou estratégias de picks, ou ainda só acompanhando as notícias do cenário, essas horas só aumentam. É como se houvesse uma necessidade constante de preencher as horas livres com DOTA, até um nível que você vive de DOTA e passa a contar as horas em partidas.
Mas é claro que os números, por si só, não são argumento suficiente para descrever essa situação como um vício incontrolável. Cada um de nós sabe as condições nas quais alcançaram esse tempo, mas será que sempre foram em condições sadias e adequadas?
Falando sob um ponto de vista pessoal, eu já sacrifiquei muita coisa pelo DOTA. Sim. Sacrifiquei. Quantas foram as vezes que eu deveria estar estudando e, por fraqueza, preferi passar o tempo jogando DOTA, depois perdendo matérias na faculdade e prazos de trabalhos simplesmente porque decidi jogar? Quantas foram as vezes que deixei de fazer coisas porque simplesmente queria jogar? Quantas foram as vezes que deixei de passar o tempo com pessoas que eu gosto pra me frustrar jogando? Pra todas essas perguntas não tenho uma resposta precisa, mas tenho a certeza de que o número é bem maior do que eu gostaria que fosse.
Mas não para por ai. Não. A situação chega no auge do descontrole quando você percebe que passou um dia todo, em um estado deplorável, preso a tela do computador e sequer percebeu que não fez nada além de jogar; ou quando você levanta de manhã e já vai pra frente do computador com intuito de jogar, sem se perguntar se você realmente quer; ou ainda quando você abre o DOTA sem nem perceber e no momento em que você se dá conta, já está procurando uma partida; ou mesmo quando você joga enquanto faz outras coisas porque “não quer perder tempo sem jogar”, e acaba não fazendo nenhuma delas direito. Se qualquer uma dessas coisas aconteceu com você, sinto muito, mas talvez você tenha atingido o pico. O pior dos sintomas é quando você tem brigas constantes com seus amigos no jogo, sempre estressado e procurando alguém pra culpar. Quando você chega nesse ponto, talvez seja a hora de pensar: você está jogando DOTA pelas razões certas?
Nesse momento cabe a reflexão: Quantas coisas você poderia ter alcançado com esse número de horas? Quantas horas é preciso para se tornar mestre ou dominar alguma coisa? Claro que se você for um profissional de DOTA, cada minuto é bem gasto, mas e o resto de nós? Veja bem, é importante ressaltar que eu não acho de maneira alguma que jogos são uma perda de tempo e muito menos DOTA, se você estiver se divertindo, mas quando se torna um vício, ainda diverte? No meu caso a resposta, que levou vários meses pra ser encontrada, é não.
O maior problema de DOTA é que o ambiente que ele cria, por si só, já é nocivo. Por mais que seja um jogo e jogos sejam feitos para entretenimento, sua natureza competitiva é inevitável. Você está, frequentemente, num cenário competitivo e agressivo, no qual você se vê constantemente comparado, julgado e diminuído. Não me leve a mal: o problema não é o DOTA em si, não é a comunidade ou mesmo os criadores: o problema é como cada um encara o jogo e, no meu caso, eu passei a encarar como uma necessidade.
Ao longo dos anos, eu me vi deixar várias coisas de lado em função do DOTA, inclusive vários passatempos que, a meu ver, me divertiriam ou agregariam muito mais que uma partida como ler livros, assistir séries, filmes e animes ou mesmo jogar um dos meus mais de 200 jogos intocados na Steam. Eu já tinha sentido esse problema com o jogo na minha vida há alguns meses – desde que parei de escrever aqui, entre outras razões – mas agora cheguei a conclusão que, pelo menos pra mim, é hora de dar um tempo bem longo nesse joguinho e focar em outras coisas, como por exemplo meus projetos pessoais.
E você, de quantas coisas abriu mão pra jogar DOTA? DOTA ainda te diverte? Você se considera um DOTOMANIACO?
Antigamente eu ficava incomodado quando alguém no jogo me chamava de “doente”. Mas hoje, parando pra pensar, talvez eu realmente seja.
Se você perde uma partida você fica irritado, se sente mal, parece que perdeu seu tempo a toa. Mas se você ganha, dificilmente você se sente relaxado ou tem um sentimento bom, como se ganhar fosse o estado normal das coisas.
Perder: sensação ruim / Ganhar: sensação neutra
Pensar muito nisso foi o que me fez parar de jogar aos poucos.
Já tive muitas conversas sobre esse assunto em alguns pubs, quando notava que estava num time com gente mais madura que o padrão, adultos, pais de família, etc e o sentimento era exatamente esse. Muita gente que ao ler, como eu, vai pensar: “Parece que fui que escrevi esse texto”
Parabéns pelo artigo!
Poxa, excelente texto.
Dota tinha que ser proibido piramide que destroi família e caisa danos a saude
muito bom texto… tudo em exagero faz mal… abtes me divertia jogando depois passei a virar um monstro ja deixei de falar com amigos depois de meses consegui o contato de volta e pedi desculpas… tudo oq relata nos seus textos já aconteceu comigo…hoje em dia quando jogo coloco uma musica maneira e fico curtindo o som só falo o necessário e foco muito mais no jogo em grupo do q correr atras de kill, correr atras de kill estressa muito mais porq vc acha q jogou bem porq matou muito quando na verdade vc não ajudou o time a vencer..